TL;DR
- O Antigo Egito era renomado como o repositório definitivo de sabedoria arcana, atraindo sábios de todo o mundo antigo para aprender seus “mistérios”.
- Figuras lendárias como Orfeu, Moisés e Licurgo supostamente adquiriram sabedoria teológica, matemática e política dos sacerdotes egípcios.
- Filósofos gregos, incluindo Tales, Sólon, Pitágoras, Platão e Demócrito, viajaram para o Egito, retornando com conhecimento geométrico, insights astronômicos e doutrinas filosóficas.
- Figuras posteriores, de Apolônio de Tiana a Christian Rosenkreuz, continuaram essa tradição nos períodos medieval e moderno.
- A fuga da infância de Jesus para o Egito se encaixa nesse padrão arquetípico de figuras sábias sendo tocadas pela herança mística do Egito.
- O tema contínuo ao longo dos milênios: “Ir ao Egito para aprender os mistérios” era uma marca de honra e a fonte definitiva do conhecimento antigo.
Introdução#
O Antigo Egito era famoso como um repositório de sabedoria arcana. De poetas lendários a filósofos e até figuras religiosas, muitos sábios eram ditos viajar ao Egito para aprender os “mistérios” – conhecimento secreto de religião, ciência ou magia. Abaixo está uma lista exaustiva de tais figuras (tanto históricas quanto lendárias), junto com o que cada uma supostamente aprendeu no Egito, mostrando como a estada da infância de Jesus se encaixa nessa longa tradição.
Sábios Míticos e Lendários
Orfeu (poeta lendário)#
Na mitologia grega, Orfeu viajou para o Egito e foi iniciado nos mistérios de Osíris/Dionísio. Diodoro Sículo relata que Orfeu adotou os ritos egípcios de Dionísio e os trouxe de volta para a Grécia, transplantando efetivamente esses rituais de mistério para Tebas. As doutrinas que Orfeu aprendeu nos santuários egípcios supostamente incluíam princípios teológicos (por exemplo, a unidade de Deus acima de deuses menores) e ritos secretos, que formaram a base dos Mistérios Órficos na Grécia.
Moisés (legislador hebreu)#
Embora Moisés tenha nascido no Egito, a tradição enfatiza que ele foi “educado em toda a sabedoria dos egípcios”. O Novo Testamento nota isso explicitamente (Atos 7:22), e comentaristas explicam que a sabedoria egípcia abrangia assuntos como geometria, astronomia, medicina e conhecimento esotérico. Lendas posteriores até creditam a Moisés o conhecimento oculto egípcio – por exemplo, ele é retratado como superando os magos do Faraó (por exemplo, Janes e Jambres) na Bíblia, sugerindo que ele dominou suas artes. No pensamento judaico helenístico e cristão, Moisés frequentemente simbolizava a transmissão do aprendizado egípcio para a tradição hebraica.
Licurgo (legislador espartano)#
O semi-lendário Licurgo, que deu a Esparta suas leis, também era dito ter viajado amplamente. Plutarco relata que “os egípcios pensam que Licurgo os visitou” e admirou como a sociedade egípcia separava a classe militar das outras. Licurgo supostamente tomou emprestada a ideia de uma casta guerreira – removendo artesãos e comerciantes do governo – para impor a disciplina social espartana. Isso sugere que ele aprendeu “mistérios” de governança no Egito, aplicando a sabedoria política egípcia (um sistema de classes rígido e estilo de vida austero) às suas reformas espartanas.
Filósofos e Sábios Gregos Antigos
Tales de Mileto (c. século VI a.C.)#
Um dos Sete Sábios da Grécia, Tales é frequentemente creditado por trazer conhecimento geométrico e astronômico do Egito. Biógrafos posteriores relatam que Tales estudou com sacerdotes no Egito e até aconselhou seu aluno Pitágoras a ir para lá. Jâmblico escreve que Tales “confessou que a instrução dos sacerdotes [egípcios] foi a fonte de sua própria reputação por sabedoria”. Ele instou Pitágoras a entrar em contato com os sacerdotes de Mênfis e Tebas. De fato, Tales provavelmente aprendeu geometria prática no Egito – Heródoto observa que os egípcios precisavam medir terras após as inundações do Nilo, uma habilidade que Tales introduziu na Grécia. Assim, o famoso teorema de Tales e suas previsões astronômicas foram atribuídos ao treinamento egípcio.
Sólon de Atenas (c. 590 a.C.)#
O legislador ateniense Sólon visitou o Egito e estudou com sacerdotes egípcios. Plutarco relata que Sólon passou tempo estudando com Psenófis de Heliópolis e Sonchis de Saís, “que eram sacerdotes muito eruditos”. Deles, “ele ouviu a história da Atlântida perdida”, que ele mais tarde tentou transmitir poeticamente aos gregos. De acordo com essa tradição (imortalizada mais tarde no Timeu de Platão), os sacerdotes do Egito possuíam registros de cataclismos antigos esquecidos pelos gregos. Além da Atlântida, Sólon provavelmente absorveu um senso geral da antiguidade e sabedoria do Egito; influências egípcias podem ter informado suas próprias reformas. Em suma, a estada egípcia de Sólon conectou Atenas ao profundo conhecimento histórico mantido nos templos egípcios.
Cleóbulo de Lindos (século VI a.C.)#
Outro dos Sete Sábios da Grécia, Cleóbulo também “viajou, em sua juventude, para o Egito, onde foi ensinado filosofia pelos sacerdotes místicos”. Fontes notam que “ele estudou filosofia no Egito” e era renomado por sua sabedoria e enigmas. Sua filha Cleobulina mais tarde se tornou uma notável enigmista também, sugerindo uma influência egípcia na literatura de sabedoria enigmática. Os ensinamentos de Cleóbulo (por exemplo, máximas sobre moderação, aprendizado e autocontrole) podem ter sido enriquecidos pelo conhecimento filosófico dos templos egípcios.
Pitágoras de Samos (fl. século VI a.C.)#
Talvez o caso mais famoso, Pitágoras viajou para o Egito para ser iniciado em seus mistérios. Biografias posteriores (por Porfírio e Jâmblico) afirmam que ele passou mais de 20 anos no Egito aprendendo com sacerdotes. Jâmblico descreve como “no Egito ele frequentou todos os santuários com a maior diligência… ganhando a estima de todos os sacerdotes”, e ele “adquiriu toda a sabedoria que cada um possuía”. Entre os ensinamentos que Pitágoras aprendeu estavam geometria e astronomia – os sacerdotes do Egito lhe ensinaram seu conhecimento dos ciclos celestiais e da medição de terras. Ele foi até dito ter sido iniciado em Tebas, o único estrangeiro já permitido a participar do culto nos templos egípcios. A doutrina de Pitágoras sobre a metempsicose (transmigração das almas) foi atribuída a crenças egípcias, e suas famosas teorias matemáticas e musicais também ecoaram insights egípcios e orientais. Em suma, os gregos posteriores viam a filosofia de Pitágoras como uma “sabedoria de mistério” sincrética – “uma síntese de tudo que Pitágoras aprendeu de Orfeu, dos sacerdotes egípcios, [e] dos Mistérios de Elêusis”, como Jâmblico colocou.
Heródoto de Halicarnasso (século V a.C.)#
O historiador grego Heródoto pode não ser um “sábio” no mesmo molde, mas ele viajou para o Egito para reunir conhecimento e é uma fonte primária sobre a tradição egípcia. No Livro II das Histórias, Heródoto relata que “dos sacerdotes em Mênfis, Heliópolis e Tebas ele aprendeu” sobre a geografia do Egito, o Nilo, ritos religiosos e história. Ele sugere que os sacerdotes até confiaram a ele conhecimento secreto sobre certos deuses – em um ponto ele se recusa a elaborar sobre Osíris porque “eu sei, mas não devo dizer”. Heródoto admirava abertamente a sabedoria egípcia, afirmando que “os egípcios são sábios” e que os gregos tomaram muitos costumes deles. Assim, a estada de Heródoto exemplifica a visão grega do Egito como a fonte dos “mistérios” religiosos e históricos antigos.
Demócrito de Abdera (século V a.C.)#
O filósofo Demócrito, famoso pela teoria atômica, empreendeu extensas viagens em busca de conhecimento. Relatos antigos dizem que ele “gastou a herança que seu pai lhe deixou em viagens para países distantes” em busca de aprendizado. Ele “também deve ter visitado o Egito”, e Diodoro Sículo até afirma que Demócrito “viveu lá por cinco anos”. Durante esse tempo, ele consultou “matemáticos egípcios, cujo conhecimento ele elogia”. O próprio Demócrito se gabava de que ninguém havia viajado mais ou conhecido mais estudiosos do que ele, “entre os quais ele menciona em particular os sacerdotes egípcios”. Deles, ele aprendeu geometria e cosmologia – escritores posteriores notam que Demócrito escreveu sobre o conhecimento sagrado egípcio (teologia) e reconheceu a habilidade dos egípcios em matemática. Em suma, Demócrito é retratado como absorvendo conhecimento científico e místico no Egito (e na Babilônia, Pérsia, até mesmo Índia) para se tornar o mais erudito dos filósofos.
Platão de Atenas (428–347 a.C.)#
O grande filósofo Platão também está ligado à tradição da sabedoria egípcia. Após a morte de Sócrates, Platão viajou para o exterior por cerca de 12 anos, e relatos posteriores incluem uma estada no Egito como parte de suas viagens. Ele supostamente visitou Heliópolis e talvez tenha conhecido sacerdotes lá. Segundo Diógenes Laércio, Platão “foi para o Egito, onde admirou a antiga sabedoria” dos sacerdotes. Embora os detalhes sejam escassos, diz-se que ele estudou geometria e astronomia com sábios egípcios (uma tradição afirma que ele aprendeu com os sacerdotes de Heliópolis assim como seu amigo Eudoxo fez). De fato, os próprios diálogos de Platão atestam a influência egípcia: no Timeu, ele tem um sacerdote egípcio relatando a história da Atlântida (transmitida via Sólon) e enfatiza que a civilização egípcia preservou a sabedoria pré-histórica. Um escritor posterior, Filóstrato, até comentou que “Platão foi ao Egito e misturou em seus próprios discursos muito do que ouviu dos profetas e sacerdotes lá”. Assim, a filosofia de Platão – especialmente sua ênfase em formas eternas e ordem cósmica – foi vista como enriquecida pela cosmologia e teologia egípcias. (Notavelmente, o aluno de Platão, Eudoxo de Cnido, passou 16 meses no Egito estudando astronomia sob os sacerdotes de Heliópolis, refinando o conhecimento astronômico que informaria o trabalho posterior de Platão.)
Eudoxo de Cnido (c. 390–337 a.C.)#
Aluno de Platão e renomado astrônomo, Eudoxo foi ao Egito especificamente para aprender astronomia. Ele passou mais de um ano em Heliópolis, onde “estudou astronomia com os sacerdotes” e até usou seu observatório para mapear estrelas. Eudoxo absorveu as observações egípcias dos céus (seu conhecimento de estrelas fixas e ciclos planetários) e ao retornar à Grécia, revolucionou a astronomia grega. Seu modelo de esferas celestes e seus estudos de calendário foram claramente informados pelos registros astronômicos egípcios. Assim, Eudoxo é um exemplo histórico concreto de adquirir “mistérios” científicos (neste caso, dados e técnicas astronômicas avançadas) de estudiosos de templos egípcios.
Figuras Posteriores e Tradições da Era Cristã
Apolônio de Tiana (século I d.C.)#
Apolônio era um filósofo errante e fazedor de milagres frequentemente comparado a Jesus. A biografia de Filóstrato do século III retrata Apolônio viajando amplamente em busca de sabedoria esotérica. Apolônio não apenas visitou a Mesopotâmia e a Índia (aprendendo com magos persas e brâmanes indianos), mas também passou tempo no Egito e na Etiópia. Na narrativa, Apolônio debate com sacerdotes egípcios e está presente em santuários egípcios realizando ritos. Um resumo moderno observa que “os dons de previsão de Apolônio foram dados a ele através do estudo com os brâmanes da Índia e filósofos egípcios”. De fato, Filóstrato afirma que Apolônio ganhou suas habilidades milagrosas através da sabedoria aprendida com sábios indianos e sacerdotes egípcios, em vez de através de feitiçaria. Lendas posteriores (registradas por G.R.S. Mead) até dizem que Apolônio passou seus últimos anos nos santuários do Egito, imerso em ritos secretos. Em suma, a vida de Apolônio foi retratada como um grande tour pelas tradições de sabedoria do mundo – com o Egito como uma parada chave onde ele aprofundou sua filosofia pitagórica e aprendeu artes místicas (como cura, profecia e reforma de templos) de fontes egípcias.
Jesus de Nazaré (século I d.C.)#
Jesus difere dos acima mencionados no sentido de que ele viajou para o Egito quando criança, em vez de como um buscador de sabedoria. No entanto, sua fuga para o Egito quando bebê (com José e Maria, para escapar da perseguição de Herodes) é vista por alguns escritores como simbolicamente ligando-o à tradição da sabedoria egípcia. O Evangelho de Mateus registra que a Sagrada Família permaneceu no Egito até a morte de Herodes. Embora os textos canônicos sejam silenciosos sobre as atividades de Jesus lá, lendas apócrifas posteriores afirmam que o menino Jesus realizou milagres em solo egípcio (derrubando ídolos) – sugerindo que mesmo na infância ele “iluminou” o Egito. Mais relevante é uma alegação polêmica de críticos antigos: o escritor do século II Celso alegou que Jesus aprendeu artes mágicas no Egito durante sua juventude. Orígenes, citando a acusação de Celso, escreve: “Celso… alega que Jesus realizou apenas o que Ele havia aprendido entre os egípcios”. Essa acusação hostil (de que os milagres de Jesus derivavam da feitiçaria egípcia) indica uma tradição de que Jesus ganhou conhecimento secreto no Egito – efetivamente contando-o entre aqueles que se basearam nos “mistérios” egípcios. Em círculos cristãos esotéricos, há temas semelhantes (por exemplo, lendas medievais de Jesus visitando os Terapeutas egípcios ou aprendendo em escolas esotéricas). Assim, o tempo de Jesus no Egito, embora como criança, é frequentemente entrelaçado no continuum de figuras sábias tocadas pela herança mística do Egito. Cumpre a ideia profética “Do Egito chamei meu Filho”, enquanto se alinha com o padrão do Egito como um cadinho para a sabedoria, mesmo para a figura salvadora.
Buscadores Esotéricos Medievais e Modernos
Professores Herméticos e Gnósticos (século I–IV)#
Uma tradição esotérica mais ampla sustentava que os mistérios do Egito foram transmitidos através de professores herméticos. Hermes Trismegisto, o lendário sábio egípcio (identificado com o deus Thoth), era acreditado ter escrito textos místicos (o Corpus Hermeticum). Seitas gnósticas iniciais e neoplatônicos posteriores na antiguidade tardia reverenciavam o Egito como a fonte de sabedoria secreta sobre o cosmos. Por exemplo, o filósofo do século III Jâmblico em “Sobre os Mistérios” afirma que sacerdotes egípcios possuíam conhecimento teúrgico arcano, e sábios gregos (incluindo Pitágoras e Platão) eram meros iniciados dessa antiga “religião de Mistério” egípcia. Isso preparou o terreno para lendas medievais de sábios buscando a sabedoria do Egito.
Christian Rosenkreuz (século XV, lendário)#
O (provavelmente fictício) fundador da Ordem Rosacruz, Christian Rosenkreuz é dito ter viajado no início dos anos 1400 pelo Oriente Médio para adquirir sabedoria oculta. De acordo com a Fama Fraternitatis (1614), o itinerário de Rosenkreuz incluía “Damasco, Damcar (Arábia), Egito e Fès (Marrocos)”, onde foi instruído por sábios. No Egito especificamente, ele passou um curto período aprendendo ciências naturais (“biologia e zoologia”, diz um relato) e “entrou em posse de muita sabedoria secreta”. Quando retornou à Europa, Rosenkreuz havia absorvido os ensinamentos esotéricos de mestres egípcios e do Oriente Médio, que formaram a base da alquimia e misticismo rosacruz. Sua história explicitamente retrata o Egito como uma parada para treinamento iniciático em alquimia, magia e sabedoria semelhante à cabalística, continuando o tropo bem no Renascimento.
Athanasius Kircher (erudito do século XVII)#
Embora não seja um “viajante” em pessoa, Kircher (um polímata jesuíta) era fascinado pelos mistérios egípcios. Ele obteve artefatos e textos egípcios em Roma e escreveu Oedipus Aegyptiacus (1652), uma tentativa de decifrar hieróglifos e descobrir a teologia antiga egípcia. Kircher acreditava que a sabedoria egípcia (que ele chamou de “prisca theologia”, a teologia primordial) prefigurava o cristianismo. Em certo sentido, Kircher “foi ao Egito” intelectualmente ao se imergir em seus mistérios – traduzindo o Corpus Hermeticum e estudando a mitologia de Ísis-Osíris. Seu trabalho influenciou grupos ocultistas e maçônicos do início da era moderna que viam o Egito como a fonte de conhecimento arcano. (Por exemplo, Kircher afirmou que Moisés e Orfeu se basearam na sabedoria egípcia, reforçando essa narrativa.)
Conde Alessandro Cagliostro (século XVIII)#
Um ocultista colorido e autoproclamado mago, Cagliostro invocou explicitamente a iniciação egípcia em seus ensinamentos. Ele fundou um “Rito Egípcio” da Maçonaria e afirmou possuir “os segredos dos sacerdotes egípcios”. De acordo com suas memórias, Cagliostro viajou pelo Oriente (talvez incluindo o Egito) quando jovem e foi iniciado por um mestre misterioso (às vezes chamado Althotas). Uma fonte rosacruz relata que ele passou por uma iniciação na Grande Pirâmide do Egito, experimentando iluminação. As cerimônias do Rito Egípcio de Cagliostro envolviam simbolismo pseudo-egípcio (pirâmides, esfinges, etc.) e prometiam elixires de cura e imortalidade – ditos derivar da magia egípcia antiga. Embora grande parte de sua biografia seja duvidosa, a notoriedade de Cagliostro mostra o contínuo fascínio pelo Egito. Europeus do século XVIII, de ocultistas como Cagliostro a estudiosos como Champollion (que decifrou hieróglifos), todos viam o Egito como o guardião de mistérios primordiais esperando para serem redescobertos ou explorados.
Maçons e Renascimento Oculto (séculos XVIII–XIX)#
Além de Cagliostro, muitas sociedades secretas da era do Iluminismo adotaram motivos egípcios. Os ritos de alto grau da Maçonaria, como o Rito de Memphis-Misraim, se estilizaram como herdeiros dos “Mistérios Egípcios”. Eles inventaram lendas de que a sabedoria de Salomão e Moisés veio da iniciação egípcia, e que o ritual maçônico perpetua os ritos dos templos faraônicos. Por exemplo, o maçom do século XIX Albert Pike escreveu que filósofos gregos “foram iniciados no Egito” e que o simbolismo maçônico remonta aos ensinamentos egípcios sobre a unidade de Deus e a imortalidade da alma. Na literatura, romances como “Zenobia” ou “The Coming Race” de Bulwer-Lytton referenciavam sábios aprendendo segredos ocultos no Egito. No final do século XIX, a Sociedade Teosófica e outros grupos ocultistas popularizaram ainda mais a ideia – falando de “Mestres da Sabedoria” no Oriente (às vezes especificamente no Egito ou seus desertos) que treinavam adeptos ocidentais selecionados. Em suma, o misticismo do Egito como o berço da sabedoria oculta persistiu, inspirando gerações de “buscadores” muito depois da antiguidade.
Conclusão#
Desde a Antiguidade até o Renascimento, a fama do Egito como a mãe dos mistérios atraiu sábio após sábio – sejam filósofos reais como Tales, Pitágoras, Platão e Demócrito, ou figuras lendárias como Orfeu e Hermes. Eles foram (ou foram ditos ir) aos santuários egípcios e retornaram com ensinamentos profundos: conhecimento matemático, princípios de teologia e lei, iniciação em ritos dos deuses e habilidades esotéricas como astrologia ou magia. Até mesmo personagens bíblicos fundamentais – Moisés e Jesus – foram entrelaçados nesse padrão, retratados como imersos na sabedoria egípcia (ou no caso de Jesus, pelo menos tocando o solo egípcio como parte do destino divino). Na era medieval e moderna, essa tradição foi conscientemente revivida por ordens esotéricas (rosacruzes, maçons, teosofistas), que ou mitologizaram seus fundadores como viajando para o Egito ou simbolicamente traçaram suas doutrinas secretas de volta às origens egípcias.
Todos esses exemplos reforçam um tema contínuo: “Ir ao Egito para aprender os mistérios” era uma marca de honra para um homem sábio. Significava acessar a fonte mais antiga de conhecimento disponível. Seja Sólon ouvindo sobre Atlântida dos sacerdotes saítas, Pitágoras aprendendo a harmonia secreta do cosmos em Tebas, ou ocultistas renascentistas buscando a magia de Hermes, o Egito representava a tradição de sabedoria antiga por excelência. A fuga da infância de Jesus pode, portanto, ser vista como se encaixando nesse arquétipo – mais tarde interpretada (por detratores como Celso e alguns autores esotéricos) como Jesus tendo absorvido o conhecimento secreto do Egito. Verdadeiro ou não, a percepção é o que importava: ao longo da história ocidental, o Egito foi o professor de homens sábios, e a jornada ao Egito – seja física ou intelectual – foi o rito de passagem para os Mistérios dos tempos.
FAQ#
P: Todos esses relatos de sábios viajando para o Egito são historicamente precisos? R: Muitos desses relatos são lendários ou semi-lendários, particularmente os mais antigos (Orfeu, sábios gregos iniciais). Alguns têm uma base histórica mais forte (Heródoto definitivamente visitou o Egito, Eudoxo provavelmente o fez), enquanto outros refletem tradições posteriores que podem ter embelezado ou inventado conexões egípcias para dar autoridade a vários ensinamentos.
P: Que conhecimento específico esses sábios disseram ter adquirido no Egito? R: O conhecimento variava, mas comumente incluía: geometria e matemática (técnicas de medição de terras), astronomia (observações celestiais e sistemas de calendário), medicina e artes de cura, doutrinas religiosas e teológicas (especialmente sobre a vida após a morte e transmigração da alma), práticas mágicas e princípios de organização política/social.
P: Por que o Egito era especificamente visto como a fonte de sabedoria antiga? R: A extrema antiguidade do Egito, monumentos impressionantes, classe sacerdotal sofisticada, registros escritos preservados e civilização estável ao longo de milênios fizeram parecer aos gregos e culturas posteriores como o repositório de conhecimento primordial. Seus sacerdotes eram vistos como guardiões de segredos que remontavam ao amanhecer da civilização.
P: Como a infância de Jesus no Egito se encaixa nesse padrão? R: Embora Jesus tenha ido ao Egito como uma criança refugiada em vez de um buscador de sabedoria, tradições posteriores (tanto hostis como as acusações de Celso quanto lendas cristãs esotéricas) conectaram seu tempo lá ao padrão mais amplo de adquirir sabedoria egípcia. Isso cumpriu tanto a profecia bíblica (“Do Egito chamei meu filho”) quanto a narrativa arquetípica do Egito como um ambiente espiritual formativo.
P: Essa tradição continuou além da antiguidade? R: Sim, o misticismo da sabedoria egípcia persistiu através dos tempos medievais (tradições herméticas), o Renascimento (lendas rosacruzes), o Iluminismo (ritos egípcios maçônicos) e no ocultismo moderno (Sociedade Teosófica). Cada era reinterpretou os mistérios egípcios de acordo com as necessidades espirituais e intelectuais contemporâneas.
Fontes#
- Diodoro Sículo, Biblioteca de História 1.27–29 (século I a.C.) – sobre Orfeu adotando mistérios egípcios.
- Plutarco, Vida de Sólon 26.1 – estudos de Sólon com os sacerdotes egípcios Sonchis e Psenófis (história da Atlântida).
- Plutarco, Vida de Licurgo 4–5 – visita de Licurgo ao Egito e adoção de seu sistema social.
- Jâmblico, Sobre a Vida Pitagórica (século III d.C.) – iniciação de Pitágoras no Egito (viagens aconselhadas por Tales).
- Heródoto, Histórias Livro II (século V a.C.) – relato de Heródoto sobre a religião egípcia e sua dependência do conhecimento sacerdotal.
- Diógenes Laércio, Vidas de Filósofos Eminentes (século III d.C.) – anedotas sobre Demócrito (viagens no Egito, Babilônia, etc.) e sobre Cleóbulo.
- “Eudoxo de Cnido” – MacTutor History of Mathematics (Universidade de St. Andrews) – Eudoxo estudando astronomia com sacerdotes em Heliópolis.
- Bíblia, Atos 7:22 – “Moisés foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios” (KJV); cf. comentários da Bíblia Hub descrevendo a educação egípcia (geometria, astrologia, etc.).
- Orígenes, Contra Celso I.28 (século III d.C.) – citando a alegação de Celso de que Jesus aprendeu magia no Egito.
- Filóstrato, Vida de Apolônio de Tiana (século III d.C.), conforme resumido por Harland (2024) – estudo de Apolônio com sábios indianos e egípcios.
- History.com – “Platão” (atualizado em 2025) – viagens de Platão após Sócrates na Itália e Egito, estudando com pitagóricos como Teodoro.
- Britannica – “Christian Rosenkreuz” – viagens do fundador rosacruz para a Arábia, Egito e Fez para sabedoria secreta.
- Britannica – “illuminati: Early illuminati” – (reiterando a jornada de Rosenkreuz incluindo o Egito e aquisição de sabedoria secreta).
- Comentário de Benson sobre Atos 7:22 (via BibleHub) – testemunhos antigos sobre Moisés e aprendizado egípcio (e nota que “muitos filósofos gregos viajaram para o Egito em busca de conhecimento”, citando Heródoto).