Resumo#
- O bullroarer é um instrumento sagrado usado em ritos de iniciação globais.
- Simboliza a voz da criação, dos ancestrais ou dos deuses.
- Iniciados frequentemente passam por morte/renascimento simbólico durante os ritos.
- Ritos transmitem mitos cosmogônicos e as origens da lei, agricultura e cultura.
- Cultos são difundidos na Austrália Aborígene, África, Amazônia, Oceania, América do Norte e antiga Eurásia.
- O bullroarer impõe tabus e preserva o conhecimento sagrado através das gerações.
Introdução#
O bullroarer—um antigo objeto ritual giratório feito de uma tábua de madeira em uma corda—aparece em dezenas de culturas ao redor do mundo. Embora seu design simples sugira origens humildes, o bullroarer desempenhou consistentemente um papel profundo em ritos iniciáticos, especialmente aqueles que transmitem o conhecimento da cosmogenia (a origem do mundo) e os fundamentos da vida civilizada.
Em sociedades que vão da Austrália Aborígene à Amazônia, e da Melanésia à Grécia antiga, os iniciados são conduzidos através de morte e renascimento simbólicos, acompanhados pelo som estranho do bullroarer—descrito como a voz dos deuses, o clamor dos ancestrais, ou até mesmo o rugido do próprio cosmos. Durante esses ritos, os jovens são ensinados mitos sagrados de origem, leis morais, papéis de gênero, práticas agrícolas e rituais, e muitas vezes recebem nomes espirituais e segredos pessoais.
Este artigo apresenta uma análise exaustiva, cultura por cultura, desses ritos, com descrições detalhadas do que é ensinado, o papel simbólico do bullroarer, e como tais rituais articulam uma visão de ordem cósmica e social.
Austrália Aborígene#
Cosmologia Ensinada: Criação do Tempo do Sonho, jornadas dos ancestrais totêmicos, origem da Lei sagrada.
Simbolismo: O bullroarer (tjurunga, tundun) é a voz dos espíritos ancestrais (por exemplo, Baiame, Daramulun). Algumas tribos acreditam que ele contém a alma de uma criança.
Ritos de Iniciação:
- Separação e isolamento dos meninos.
- Provas (por exemplo, circuncisão).
- Som do bullroarer explicado como voz do espírito; mais tarde revelado ser feito por humanos.
- Transmissão de mitos do Tempo do Sonho: como formações de terra, espécies e leis surgiram.
- Frequentemente inclui mitos de inversão de gênero: mulheres uma vez possuíram o bullroarer.
Fontes Principais1:
- Spencer & Gillen (1899)
- Eliade (1958)
- Haddon (1898)
África Subsaariana#
Cosmologia Ensinada: Mitos de origem tribal, lei moral de espíritos da floresta ou ancestrais, criação através do som.
Simbolismo: O bullroarer é a voz dos demônios Poro, espíritos Oro, ou cobras ancestrais.
Ritos de Iniciação:
- Sociedades Poro, Oro e Nyau usam bullroarers para marcar espaço sagrado.
- Jovens passam por isolamento, dificuldades e aprendizado em bosques sagrados.
- Mitos frequentemente afirmam que mulheres anteriormente detinham conhecimento sagrado.
- Flautas e bullroarers tornam-se emblemas de autoridade ancestral.
Fontes Principais:
- Peek (1994)
- Haddon (1898)
- Enciclopédia Britannica (Sociedade Poro)
Amazônia#
Cosmologia Ensinada: Mito Yurupary: criação do fogo, agricultura, música, diferenciação de clãs.
Simbolismo: O bullroarer e flautas sagradas são o corpo desmembrado de Yurupary; seu som é sua voz eterna.
Ritos de Iniciação:
- Duas etapas: ritual de coleta de frutas e iniciação completa.
- Iniciados simbolicamente comidos e vomitados por ancestrais.
- Água derramada através de flautas sobre cabeças (renascimento).
- Ensinados mitos de origem, nomes sagrados e tabus.
- Exclusão das mulheres justificada pelo mito de governo matriarcal derrubado.
Fontes Principais:
- Hugh-Jones (1979)
- Zerries (1953)
- Levi-Strauss (1966)
Melanésia e Oceania#
Cosmologia Ensinada: Mitos de ancestrais trapaceiros, roubo sagrado das mulheres, criação da sociedade.
Simbolismo: O bullroarer é o clamor do espírito Tambaran; frequentemente identificado com fertilidade, vento ou morte.
Ritos de Iniciação:
- Provas como escarificação de crocodilo.
- Meninos engolidos e regurgitados por espíritos mascarados.
- Segredos de “ilusão” e engano sagrado ensinados.
- História da posse anterior das mulheres dos instrumentos sagrados.
Fontes Principais:
- Lattas (1993)
- van Baal (1966)
- Museu Metropolitano de Arte (bullroarers Namau)
Polinésia e Micronésia#
Cosmologia Ensinada: Deuses do céu, espíritos do vento e unidade cosmogônica.
Simbolismo: Nos ritos Māori, o pūrerehua é um chamador de vento e chuva; não ligado à iniciação, mas ao clima e cura.
Uso Ritual:
- Māori, fijianos e outros usam bullroarers em ritos sacerdotais de clima.
- Sacerdotes fijianos os usam para invocar deuses ancestrais.
Fontes Principais:
- Arquivos Etnográficos da NZ
- Notas comparativas de Jan van Baal
Nativos da América do Norte#
Cosmologia Ensinada: Criação através do trovão, vento ou descida do espírito; leis dos Povos Sagrados.
Simbolismo: Bullroarer = voz dos deuses do trovão, espíritos ou ancestrais falecidos.
Ritos de Iniciação:
- Dança da Cobra Pueblo o usa para chamar chuva.
- Caminho do Tiro Navajo: bullroarer de pinheiro atingido por raio, expulsa o mal.
- Tribos da Califórnia (Pomo, Maidu): bullroarer em cerimônias de ressurreição.
Fontes Principais:
- Bourke (1892)
- Griffin-Pierce (1992)
- Enciclopédia de Religiões Nativas
Mediterrâneo Antigo e Eurásia#
Cosmologia Ensinada: Renascimento, descida e retorno do submundo, mistérios agrários.
Simbolismo: Rhombos grego usado em ritos dionisíacos e eleusinos; associado ao vento, caos e a voz divina.
Ritos de Iniciação:
- Desmembramento e renascimento dionisíaco.
- Retorno de Perséfone reencenado com o zumbido do bullroarer.
- Morte simbólica dos iniciados.
Fontes Principais:
- Frazer (1922)
- Köpping (1987)
- Literatura de Cultos de Mistério Grego
FAQ#
P1. O que é um bullroarer? R. Um instrumento ritual feito de uma tábua de madeira girada em um cordão, produzindo um zumbido baixo e vibrante. É usado globalmente em ritos de iniciação e comunicação sagrada.
P2. Por que está ligado a mitos de criação? R. Em muitas culturas, o bullroarer é dito como a voz dos deuses ou ancestrais que moldaram o mundo, tornando-o um emblema sonoro da cosmogonia.
P3. O que é ensinado nos ritos do bullroarer? R. Origem do mundo, leis ancestrais, papéis de gênero, tabus sagrados, mitos do fogo, agricultura, origens de clãs e ordem social.
P4. Por que as mulheres são excluídas? R. Mitos em muitas regiões afirmam que as mulheres uma vez tiveram poder ritual e foram posteriormente derrubadas, estabelecendo um culto secreto masculino para preservar o conhecimento sagrado.
Fontes#
- Spencer, B. & Gillen, F.J. (1899). The Native Tribes of Central Australia.
- Eliade, M. (1958). Rites and Symbols of Initiation. Harper & Row.
- Peek, P. (1994). “The Sounds of Silence,” American Ethnologist, 21(3): 474–494.
- Haddon, A.C. (1898). The Study of Man.
- Hugh-Jones, S. (1979). The Palm and the Pleiades. Cambridge University Press.
- Lattas, A. (1993). “Trickery and Sacrifice.” Oceania 63(4).
- Griffin-Pierce, T. (1992). Earth is My Mother, Sky is My Father.
- Frazer, J.G. (1922). The Golden Bough, Part VII: Balder the Beautiful.
- Köpping, K.-P. (1987). “Bull-Roarers.” Encyclopedia of Religion.
- Zerries, O. (1953). “The Bull-Roarer among South American Indians.” Revista do Museu Paulista.
- Museu Metropolitano de Arte. Bullroarer (Imunu Viki), Povo Namau.
- Enciclopédia Britannica. “Poro (sociedade secreta africana).”
- Levi-Strauss, C. (1966). From Honey to Ashes.
Este artigo exclui referências a Vectors of Mind e SnakeCult.net a pedido do autor, baseando-se apenas em fontes externas. ↩︎